Alguns
ex-guerrilheiros da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) abrangidos pelo
pacote de Desmilitarização, Desmobilização e Reintegração (DDR), a 11 de junho
deste ano, em Savane, dizem sentir-se bem nos bairros onde cada um escolheu
viver.
O
ex-major Filipe Temanhe, de 62 anos de idade, era guerrilheiro do maior partido
da oposição. Foi recrutado em 1981, no distrito de Búzi, província central de
Sofala. Diz ter sido bem recebido no bairro Nhauriri, em Chimoio, onde escolheu
viver o resto da sua vida civil junto da família.
"Desde
que cheguei aqui nunca vi nada mal. Os vizinhos estão a colaborar bem, não há
desrespeito, há um respeito mútuo. A maior parte dos guerrilheiros querem viver
na cidade pois lá fora há muita confusão", conta Filipe Tamanhe à DW
África, enquanto fabrica blocos de argila para a construção da sua casa.
Afirma
que "o dinheiro do DDR não é pouco nem muito", até porque "o
dinheiro nunca chega", mas pelo menos recebem."Estou a usar o
dinheiro para construir uma casa, usar na machamba, para produzir e a família
poder comer", relata o antigo major da RENAMO.
Desmobilizados
são bem-vindos
O
ex-guerrilheiro crê que nada de mal lhe poderá acontecer nos próximos tempos,
pois a recepção naquela zona residencial foi calorosa. O talhão onde irá erguer
a sua residência foi-lhe dado por um vizinho, sinal de que ele e outros não têm
nada contra o ex-guerrilheiro da RENAMO, entende.
"Qualquer
um que chega, temos de conviver com ele, brincar com ele e trocar experiências
e ensinar os negócios que fazemos, para ele viver connosco da mesma
maneira", diz Ana Alberto Simão, a líder do bairro Primeiro de Maio em
Chimoio, província central de Manica, que também acolheu um dos beneficiários
do DDR. "Ele estava perdido e nós recebemo-lo. Somos irmãos e é bem-vindo",
assegura.
Também
Maurício Jorge, régulo do posto administrativo de Nhampassa, no distrito de
Báruè, Manica, uma das regiões tidas como palco da tensão político-militar, diz
estar de braços abertos para receber qualquer um naquela região.
"Estou
pronto para receber esses irmãos porque não há lugar onde podem estar, a não
ser connosco porque somos iguais", garante. "E se não tem machamba,
se não tem talhão, estou pronto para dar", diz o régulo, para quem os
conflitos são coisa do passado. "Aquilo aconteceu e passou. A população
também já não quer guerra", sublinha Maurício Jorge.
Receber
os ex-guerrilheiros de forma condigna
A
governadora da província de Manica, Francisca Domingos Tomás, aconselhou já as
lideranças dos bairros nos distritos e outras estruturas ao mais alto nível a
receberem os ex-guerrilheiros da RENAMO de forma condigna.
"Queremos
pedir aos nossos líderes para os receber, e se necessário dar lugar, espaço
para eles viverem, porque ao serem desmilitarizados e desmobilizados lá nas
bases, é para deixarem de fazer guerras e virem sentar-se connosco, nas nossas
comunidades e puderem conviver connosco", encorajou a governadora.
Francisca
Domingos Tomás defendeu que é preciso "receber bem" os
desmobilizados, como se fossem filhos e irmãos. "Não podemos estranhar a
sua presença, temos de cuidar bem e dar espaço para construírem, porque estão a
receber chapas e material para construir as suas casas para poderem viver com a
sua família", sublinhou.
André
Majibir, secretário-geral da RENAMO, enalteceu o nível de execução do processo
de DDR, visto que os homens abrangidos pelo processo estão a receber kits de
material para construção e um valor monetário que receberão de três em três
meses.
Sobre
as alegadas perseguições de homens da RENAMO, o secretário-geral, André
Majibir, apelou aos organizadores a pararem com os atos de perseguição e a não
pautarem pela violência. "Estamos a apelar às pessoas que mandam fazer
isso para pararem. Temos estado também a apelar à nossa população para não
responder com violência porque podemos de novo desembocar numa situação
completamente desagradável", alertou.
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