Em algumas partes do mundo, as máscaras com válvula de exalação foram proibidas. Explicamos por que os especialistas afirmam que eles não são eficazes no contexto de uma pandemia.
Uma das discussões que
mais demoraram a se resolver no início da pandemia de covid-19 girou em torno
da utilidade das máscaras como medida para prevenir a disseminação do
coronavírus.
No entanto, agora a
Organização Mundial da Saúde (OMS) aconselha os governos a incentivar o público
a usar o equipamento onde há "transmissão generalizada e o distanciamento
físico é difícil". A utilização da máscara é parte de uma série de medidas
de prevenção, que inclui a lavagem das mãos e o distanciamento social.
Agora, o debate em
muitos lugares parece ter se movido para a eficácia de um modelo de máscara
específico: os equipamentos que têm válvula.
Essas máscaras faciais
funcionam ou não para retardar o avanço da pandemia? Eles nos protegem mais do
que aqueles de fora? E por que geraram polêmica?
Resposta forte
Existem várias
máscaras no mercado que vêm com uma válvula no centro ou em um dos lados.
Mas, independentemente
do modelo e da porcentagem de partículas de cada filtro, nenhuma máscara com
válvula é eficaz no contexto de uma pandemia, alertam os especialistas.
Isso porque esse tipo
de máscara protege o próprio usuário, mas não as outras pessoas. O equipamento
filtra as partículas do ar externo quando a pessoa inspira, mas permite que as
partículas escapem pela válvula quando ela expira.
Ou seja, se a pessoa
que usa a máscara estiver infectada, pode expelir gotículas com o vírus ao
expirar, colocando quem estiver perto em risco.
Fernando Simón, diretor
do Centro de Coordenação de Alertas e Emergências de Saúde (CCAES) e porta-voz
do Ministério da Saúde da Espanha, chamou esses tipos de máscaras de
"egoístas", justamente porque só protegem a pessoa que está usando o
equipamento.
"O problema da
válvula é que o ar exalado pela pessoa se concentra em um ponto específico.
Isso pode fazer com que alguém exposto a esse ar se infecte", explica.
"Elas são
'máscaras egoístas', porque, se eu usá-las, eu me protejo mas posso expor os
outros", acrescentou.
Na opinião de Ben
Killingley, especialista em medicina de emergência e doenças infecciosas do
University College Hospital, de Londres, embora o uso geral da máscara tenha o
duplo propósito de proteger tanto o usuário quanto os outros, "as gotas
que as pessoas exalam podem estar infectadas".
E desse ponto de
vista, não faz nenhum sentido que as máscaras de válvula sejam usadas no
contexto de proteção da comunidade.
"Na verdade, só os
respiradores que se adaptam bem ao rosto têm válvula, e esses são reservados
aos profissionais de saúde. O público tem acesso a eles, mas a recomendação
para as pessoas é que usem máscara cirúrgica básica, e não esses tipos de
máscaras que não trazem nenhum benefício adicional", diz Killingley.
Não recomendado,
exceto em alguns casos
Como a proteção funciona apenas
para quem usa a máscara, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos
Estados Unidos (CDC), que meses atrás precederam a OSM ao recomendar o uso de
máscaras, também alertou contra ouso do equipamento com válvula.
Da mesma forma, autoridades de
diferentes regiões da Espanha, onde o uso de máscaras é obrigatório até na rua,
proibiram este tipo de proteção em algumas circunstâncias.
E em muitas partes do mundo —
incluindo algumas companhias aéreas —, pessoas que estão com as "máscaras
egoístas" não podem entrar em espaços fechados com ela.
Para quê são
feitas as máscaras de válvula, então?
"A ideia de incluir uma
válvula que se fecha quando você inspira e abre quando você expira é para
tornar o equipamento mais confortável para o profissional de saúde",
explica Killingley.
"Essas máscaras são mais
confortáveis de usar, pois permitem uma melhor circulação do ar."
Ao permitir que o ar escape, a
válvula ajuda a regular a temperatura e evita que o tecido se molhe.
Por isso, elas são úteis
quando se está, por exemplo, em um canteiro de obras, em uma oficina ou em
qualquer lugar onde haja geração de poeira, para evitar a respiração dessas
partículas.
A outra exceção é, como já
mencionamos, o caso dos profissionais de saúde, que podem estar em contato com
pessoas já infectadas — nessa caso, o objetivo é evitar que os profissionais se
infectem.
Ainda assim, o CDC deixa claro
que a equipe de hospitais não pode usá-la em ambientes que devem permanecer
estéreis (como durante um procedimento invasivo ou em uma sala de cirurgia),
pois a válvula "permite que o ar expirado não filtrado entre no ambiente
estéril."
E, para outros procedimentos,
quando os profissionais de saúde utilizam esse tipo de máscara com válvula,
costumam fazer acompanhados de outra máscara protetora.
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